Feto estava com uma desvio que dificultaria a respiração após o parto. O procedimento consiste em colocar um balão na traqueia do feto ainda na barriga da mãe
Uma equipe multidisciplinar de médicos realizou, pela primeira vez no Distrito Federal, uma cirurgia de correção de hérnia de diafragma, em um bebê ainda dentro da barriga da mãe. O procedimento, considerado de alta complexidade, foi realizado com sucesso nesta segunda-feira (4/2), no Hospital Santa Luzia, pelos Médicos do Centro de Medicina Fetal.
O diagnóstico indicava que o bebê estava com uma hérnia diafragmática – uma má formação no músculo do diafragma que divide os conteúdos da barriga dos conteúdos da cavidade torácica. Com essa má formação, as víceras do abdômem sobem para dentro do tórax e comprimem os pulmões do feto.
Enquanto estiver no útero da mãe, que tem 37 anos, o feto não sofre nada com a má formação, porque o oxigênio chega ao bebê pelo cordão umbilical. Entretanto, logo após o nascimento da criança, a hérnia dificulta o processo respiratório. Em média, um em cada 2.500 fetos sofre com essa má formação. Sem a cirurgia o bebê teria apenas 10% de chance de viver, segundo pesquisas científicas.
Cirurgia complexa
O procedimento consiste em inserir um balão de borracha na traqueia do feto. Assim, todas as secreções vão se acumulando no pulmão, que vai expandindo para baixo. Com a cirurgia, a literatura médica avalia que a sobrevida vai a 70%, o que ainda é debatido pelos estudiosos..
“É um procedimento de alta complexidade. É um bebê de 1kg, os espaços são muito pequenos. Temos que posicionar o feto, realizar a anestesia, colocar uma câmera de 3mm no bebê e introduzir o balão. Isso tudo com uma equipe fazendo o monitoramento ecográfico e outra de sobreaviso”, destaca o obstetra e ginecologista Matheus Beleza.
Ele foi um dos seis médicos que realizaram o procedimento, no Hospital Santa Luzia, na Asa Sul. O bebê, ainda com 27 semanas, terá de passar por outra cirurgia antes de nascer. Trata-se da retirada do balão, quando o feto alcançar as 33 ou 34 semanas.
“Depois disso, partimos para a cesária, lá pela 38ª semana de gestação. Com o defeito amenizado, a gente vê que os bebês têm condições muito melhores. Ele terá de ficar na UTI, sob cuidado, até ser submetido a outra cirurgia. Mas, se não fosse dessa forma, a chance de vida seria de apenas 10%”, conta Matheus.
Incentivo ao procedimento
O Dr. Matheus Beleza conta que o procedimento não era feito em Brasília até o Hospital Santa Luzia investir no tratamento intrauterino. “Os diagnósticos já eram feitos, mas as mães precisavam ser encaminhadas a outras unidades da federação para a cirurgia”, afirma.
A equipe do Centro de Medicina Fetal recebeu o apoio dos médicos Evaldo Trajano, Renato Sá e Fernando Maia – os dois últimos vindos do Rio de Janeiro – para a realização da cirurgia.
O primeiro procedimento intrauterino em Brasília foi realizado no fim de 2018, em um feto gêmeo com problema cardíaco grave que sobrecarregava o irmão. “São casos raros, que descobrimos durante o pré-natal. É de extrema importância a mãe se submeter a todo o acompanhamento médico, porque, se o bebê nascer com a deformidade não tratada, a chance de vida é mínima”, reforça Matheus.